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Pai, mãe e casal.

Não sou terapeuta infantil, mas, quando estou em sessões com casais, frequentemente sou demandado a fornecer orientações a respeito da criação de filhos e de resoluções de problemas envolvendo crianças e adolescentes. Naturalmente, homens e mulheres que decidiram investir na parentalidade se deparam com dúvidas e situações que os levam a refletir e compreender como seus comportamentos podem influenciar na saúde mental de seus filhos.


Não há dúvidas a respeito da importância dos pais sobre os comportamentos das crianças e adolescentes, mas nem sempre os pais sabem o quão influentes eles são e como cada atitude pode ser determinante na vida de seus pequenos. Não é minha intenção cuspir um manual parental neste pequeno texto, mas apenas iluminar, em alguns itens, a grande diferença positiva que homens e mulheres podem fazer dentro de casa.


Entendo perfeitamente que vivemos uma época em que os relacionamentos são frágeis, que casamentos perderam a solidez, e que muitas crianças e adolescentes habitam em lares constituídos por apenas uma das partes (a mãe na maioria desses casos), mas deixo claro que trabalharei aqui com uma regra geral, e que, mesmo em casos de uniões desfeitas, homens e mulheres podem (e devem) continuar sendo pais e mães.


Vamos lá!


Sem qualquer influência proveniente de movimentos feministas, do empoderamento da mulher em seu meio social, ou da discussão de diferenças ou determinações de gêneros, a figura da mãe continua exercendo fundamental influência na construção da autoimagem e da autoestima dos filhos.


A mãe, depois de abrigar a criança durante o período da gestação, é o ser que envolve, acolhe e alimenta aquele que acabou de ingressar no mundo. O cheiro, a pele, o seio, a voz, a presença feminina marcam, nos primeiros momentos de vida, o desenvolvimento da capacidade de ser enxergado, ser atendido, ser satisfeito e ser amado. Ao ter suas necessidades mais básicas satisfeitas pela figura materna, a criança começa a construir-se como sujeito capaz de encarar os primeiros desafios da sobrevivência.


Conforme a criança cresce, o comportamento materno, instintivamente carregado de afeto, proteção e carinho, molda na personalidade infantil a confiança no ambiente, condição necessária para que ela se entregue, se envolva, se relacione e participe do mundo que a cerca. Esse mesmo abrigo seguro, chamado "mamãe", será essencial para erguer o filho rejeitado, levantar aquele que foi excluído, recuperar o que foi machucado e, com beijos, abraços e muito amor, estimular o que foi maltratado a se fortalecer, reconhecer em si mesmo seu valor, e retomar o caminho de enfrentamento, descobrimento e construções em busca da autorrealização, da plenitude e da felicidade.


Nos braços da mãe, a criança se torna sujeito capaz de viver com autonomia, coragem, resiliência e confiança, em si mesma e nos outros. É a partir da figura materna que a criança consegue de construir como sujeito.


E o pai?


Se a figura materna é responsável pela construção individual, a presença do pai é necessária para a habilitação à vida social. A presença paterna representa, na vida de uma criança, a possibilidade de se adequar às regras de convivência, de exercer a solidariedade e de compartilhar o amor que nela foi depositado pela figura materna.


Enquanto, na mãe, a criança encontra afago e conforto, das características inatas de autoridade e controle pai a criança recebe as primeiras noções do que é proibido, do que não deve ser feito e das consequências do não cumprimento do que foi estabelecido. As regras transmitidas pelo pai são absorvidas pela criança como valores. Não apenas normas de conduta, mas aspectos da personalidade necessários ao convívio. Pelas primeiras proibições recebidas pelo pai, a criança torna-se capaz de compreender e aceitar as demais regras sociais que ditam os relacionamentos humanos.


Além de fonte de construção de habilidades para a coexistência, o pai é a fonte do comportamento amoroso e sexual do futuro adulto. Meninos e meninas recebem do pai as características que vão formar o comportamento sexual, a identidade de gênero e os papéis relacionados às figuras masculina ou feminina. O comportamento do pai com a mãe e com outras figuras femininas cria, no menino, um processo de identificação, formando nessa criança as características masculinas que levarão ao desenvolvimento de um gênero masculino e de comportamentos voltados para relacionamentos amorosos com objetos semelhantes aos desejados e amados pelo pai. Com a menina ocorre algo semelhante. O pai, carinhoso com a mãe e afetuoso com a própria filha, se torna alvo de desejo, o protótipo de objeto a ser, pela menina, desejado e obtido na fase adulta. Ou seja, seus comportamentos sexuais, sua identidade de gênero e seus papéis sociais relacionados à figura feminina serão incorporados, pela menina, a partir do pai como imagem querida a ser amada no parceiro de vida a ser escolhido em fase posterior de maturidade.


Se, a partir da mãe, a criança se constrói como sujeito; a partir do pai, a criança consegue se relacionar com os outros e construir laços profundos de amor e erotismo, necessários não apenas à obtenção de prazer e felicidade, mas para a própria manutenção da espécie.


E o casal?


Ao unir os atributos dos dois (pai e mãe), aquele pequeno grupo se torna o modelo social a ser reproduzido fora de casa. Segurança, afeto, autoestima, capacidade de enfrentamento, valores sociais de moralidade e conduta, disponibilidade afetiva e habilidades para construir relacionamentos amorosos. Quando a esses produtos somam-se as experiências de sucesso de um homem e de uma mulher que, crescendo em lares diferentes, foram capazes de se unir e estabelecer uma comunhão de valores e interesses, temos o resultado perfeito de crianças formadas em um ambiente capaz de gerar adultos preparados para construir, agregar e compartilhar.

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